Tivesse Fim...
David Santos Se essa rua não tivesse fim, se eu tivesse forças, seguiria meu desejo e a caminharia sem parar. Sem olhar para trás, sem sentir medo ou receio. Livre das cousas que me atormentam, mas, quando a sola de meus calçados acabar e minha carne começar a sangrar, ainda assim não vou parar. Quem sabe me regenera e tira de dentro mim aquela dor que o caminho anterior veio a causar. Dor sem fim que não me abandona, que me faz sangrar, incapaz de me assassinar, dor crônica, dor da condição humana, sobre-humana. Uma coisa estranha do caminho que não tem fim é que me leva ao ponto de partida e aquela dor que passou volta, aquela alegria volta, aquela pessoa volta, tudo volta. Voltam de um jeito estranho, mas voltam. Com o tempo sinto que aquela dor, aquela sangria não dependia do caminho, mas do meu puro sentir, da condição que me condiciona.