Onde a beleza mora.

David Santos 




A beleza, dizem, tá na face,
Na simetria, na pele sem mancha.
Mas eu sinto, cá dentro do meu espaço,
Que ela é a alma que se lança.
Não existe, ela é só ilusão,
Uma invenção da minha, da sua, da nossa cabeça.

Mas eu creio, ah, creio, com devoção,
Naquela beleza pura, que não tem pressa.
Talvez a vida, essa coisa sofrida,
Me ensinou a te ver nas curvas,
Na pele sedosa, a sede escondida,
Que me desperta e me turva.

E me consome, e me faz querer
Me consumir em ti, em mim,
Nesse desejo sedento de ser,
Nesse olhar que não tem mais fim.

Aprendi a ver, a beleza de um corpo,
Que a vida já amassou e deformou,
Mas que transluz, com o tempo,
Algo que o tempo nunca apagou.

A pequena flor desprezada,
A pele enrugada, manchada de sol,
O corpo surrado, que o capitalismo moeu,
Em tudo, o belo, eu vejo e me envolvo.

Beleza, então, é cabeça e mente,
É corpo, energia, sincronia.
Beleza é, pura e simplesmente,
A minha forma de viver a poesia.

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