As Três Serpentes
D. J. Santos
Caminhava eu por uma trilha antiga, onde o vento sussurrava segredos e o chão guardava histórias esquecidas. O Sol ainda despertava quando vi a primeira serpente. Seu corpo se desenhava em tons de preto e vermelho, como brasas vivas ocultas sob a terra. Sua presença era um aviso, um sinal de perigo. Mas ela nada fez, apenas me observou com olhos de mistério. Não recuei, nem avancei contra ela. Simplesmente saltei, deixando-a para trás. Compreendi que há perigos que não se deve desafiar, mas apenas evitar com sabedoria.
Ao cair da tarde, quando a luz dourada se desfazia no horizonte, meus passos me trouxeram a um novo encontro. Ali, na poeira do caminho, jazia a segunda serpente. Sua cabeça fora esmagada, e seu corpo já não tremia. O veneno que outrora carregava perdera sua força. Não fui eu quem a derrotou, mas alguém já havia feito isso antes de minha chegada. Fiquei ali por um instante, refletindo. Há males que não nos cabe combater, pois a justiça já os alcançou antes que precisássemos erguer as mãos.
Quando a noite desceu como um véu sobre a terra, a terceira serpente surgiu. Esta não rastejava como as outras; erguia-se como se houvesse esquecido o castigo do Éden. Seu olhar era ardiloso, e sua língua sibilava promessas de poder e medo. Antes que eu pudesse reagir, lançou sua peçonha contra mim. Mas minha fé não tremeu. O veneno foi retirado antes que alcançasse meu coração, pois aquele que caminha sob a luz do Altíssimo não é tocado pelo mal.
Três serpentes, três provações. Uma que exigiu discernimento, outra que revelou a inevitável queda do mal, e a última, que tentou me derrotar com seu ardil. Mas a verdade permaneceu: aquele que caminha com Deus pode encontrar serpentes pelo caminho, mas jamais será derrubado por elas.
E assim, segui meu caminho, sabendo que as sombras sempre tentariam se erguer, mas que a luz sempre teria a última palavra.
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