Eu

David Santos

Estou no canto mais escuro do castelo que vivo, ao lado de um dragão horrível. Ele passa dias e noites cuspindo gelo e a fazer um ruído maléfico. Não vejo estrelas, não sinto o ar, estou no mais recôndito lugar. Daqui não sei se é dia ou noite de luar.

Escuto passos pela noite, fico a pensar: quem ou o que é? De onde vem, para onde irá? 

Quando vejo abri os olhos e nada aqui está, nada não, algo há. Há a escuridão, o dragão, eu e a solidão. Não há estrelas, não há luar, não há a companhia que não veio para cá.

Aqui é tão frio, tão sem alguém. Aqui somente há um eu e esse como é complicado. Não se cala um segundo é um tagarela pior que o Dragão Branco, esse eu vive a rememorar.
É boa companhia, poucas vezes quer meu mal, mas seu lado mau é que não sabe calar. Vive a fazer papel de anjo e de demônio, melhor, de anjos. Um permissivo outro retraído, mas tudo anjo.
Que lugar estranho fui convidado a ficar, o jeito é aprender a dormir ao lado desse macho estranho que as vezes me desperta com seu roncar e que ao abrir de meus olhos, ali não está, pois está atrás de meus olhos, está em mim, sou...