Crônica de um Velho Moribundo

David Santos

Uma linda jovem, no auge de sua vivicidade passa por uma praça e vê jogado ao solo um velho moribundo. Ao passar tampa seu, recém feito, nariz para não sentir aquele odor imundo. Passos depois sua consciência aperta, ela volta e pergunta: Senhor, precisa de algo?
Reina o silêncio e por várias vezes ela torna a perguntar e em silêncio permanece o moribundo. Ao virar as costas a jovem escuta.
- Não preciso de nada tenho tudo!
- Tudo, tens tudo? És puro impuro, Velho Moribundo!
-Sim, já tive muito pouco assim como você, hoje tenho tudo. Não tive nada, apenas esposa, filhos, filhas, dinheiro, amantes e muita amizade. Já fui pobre um dia, hoje tenho tudo.
- Tem é demência!
- Não, tenho tudo, possuo aquilo que você não possui, possuo o que os poderosos sonham e por o que matam.
- O que tem além de feridas e um odor pútrido?
- Tenho o que não tinha quando nada tinha. Tenho a mim. Quando menos se espera todos se vão. O amor por mais puro que seja se não recebe algo que deseja vai embora. Filhos e filhas seguem suas vidas. O dinheiro perde seu valor. As amantes e os amantes partem e no fim: o que sobra?
-Resta uma figura decrépita como você!
- Sim, esse é o único que nunca me deixa. Aquele que está comigo, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, nos momentos alegres e tristes. Resta somente uma pessoa.
- Velho demente!
- Não sou demente, pois tenho tudo! Tenho a mim e mesmo assim como apareço a ti, tenho a mim. E você quem tem?

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