Crônica de um dia sem luz.

David Santos




Hoje não foi um dia como os outros, foi bem diferente, amanheceu sem luz. Estava claro, havia sol, mas não havia luz!
É inverno, mas não é ele o responsável.
A responsabilidade é da vida, sim da vida, não da entidade Vida. Da vida de nós viventes que andamos por nossos caminhos e por  eles fazemos nossas escolhas.
Achava eu, em minha ignorância, que vivia  em um belo jardim e que das escolhas que fiz na vida essa é a melhor, mas o jardim como não possui muros, cercas ou uniformidade deseja crescer para outro lugar.
Nesse dia sem luz peguei minha guerreira, ao sair da garagem venci o primeiro obstáculo e fui em direção de minha breve escravidão diária.
Uns chamam de trabalho, mas nas condições de nosso mundo para mim é uma maneira institucionalizada de escravidão. No caminho minh'alma estava sem luz, em um segundo de desatenção a minha frente algo inesperado e pronto.
Meti a guerreira na lateral de um possante. A batida foi tão bruta que arranquei sua orelha esquerda. Coitado, implantou outra. Eu depois de me avaliar parti em direção a minha prisão cotidiana.
Na manhã sem luz lágrimas e desespero tomaram conta de mim, minha desatenção poderia ter custado mais que uma "orelha esquerda", que meus dedos doloridos e braços quentes, podia eu ter perdido minha maior jóia, a única que se tirarem de mim, não sou mais eu, o fim das possibilidades, a não vida.
Ao passar pela ponte que a água levou, junto as vidas de um motociclista e um bebezinho respirei e percebi que a vida vale mais que perdas importantes.
É ela a única oportunidade de um recomeço e que ao pesar da não luz não posso conter o divino que habita em mim.
Chorei, lamentei e continuei. Deixei toda luz que habita em mim sair e decidi dar atenção a quem o desejo sorrateiro de voltar para o lar não me permitia dar. Afinal, não sentia mais que havia um lar a me esperar, o jardim decidiu crescer para outro lugar.
Eu como observador e cuidador somente posso desejar: cresça para onde mais frutos produzirá!
Deixei o divino que habita em mim florescer, dei atenção aos que estavam ao meu lado e mesmo com meu sentimento de estar em trevas escutei que hoje eu estava mais sereno e alegre.
Agora já ao findar do dia, longe da tenebrosa sombra e ainda com a dor da batida de antes do acidente compreendo que o Divino que havia se calado sempre está aqui e caminha ao meu lado, ao nosso lado.
A noite escura é fonte infindável de luz, não é um findar em trevas.
Quando deixamos a luz que habita em nós vislumbrar a luz que habita no outro todas as Trevas se dissipam. Elas perdem seu poder.
A única coisa que posso dizer é: Que o Divino que habita em mim contemple o divino que habita em ti, que emanem juntos uma fonte de luz inesgotável!



Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas