Sem vocês
David Santos
Se eu perder vocês
não quero mais
Não quero viver
com muitos ideais
Quero uma casa
pequena, um quarto
Quero uma varanda
onde me sinta farto
Quero uma máquina
de escrever
Quero no fim da
tarde, uma bola de sorvete ter
Sentado na
varanda, tomando minha pequena bola
Quero me esvaziar
e ver tudo aquilo indo embora
Lâmpadas essa casa
não terá, janelas na frente não
Não quero que as
luzes da rua entrem nem pelo vão
Quero entrar ao
entardecer em meu quarto escuro
Nele com toda a
poesia que reina em mim, quero
Quero datilografar
os versos mais sinceros
Quero gastar toda
a fita no rolo, sem papel
Sem vocês a poesia
não precisa ser lida é léu
Quero sufocado
pela noite, pelo tec, tec cobrir-me com o véu
Véu da ignorância,
para no outro dia escravizar-me no trabalho vazio
Não escravo de
mim, mas da carência legislativa que sufoca a vida minha
Escravo do não
querer sentir e do sentir, para no fim do dia ter novamente
Minha bola de sorvete,
minha máquina sem papel e o meu véu
Se eu perder vocês
não quero mais, não quero mais
Não quero mais,
ter ideologias, muitas não, só essas a da bola de sorvete
A da máquina sem
papel, a casa escura sem janela, para nada dentro olhar
Que quem passa
fora, não veja o desbrilho de meu olhar
E que veja o que
quer, o humano sem lugar
O humano sem
prosa, sem poesia, que apenas deve trabalhar
Amarrado pelas
correntes da nova vigência
Preso na senzala
da indecência
Obscurecido pelo
mundo
Perdido sem CONSOLIDAÇÃO
Perdido DAS LEIS
Escravo DO TRABALHO
RIP CLT
11/11/2017
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