Pentecostes: Maravilha Que Humaniza.
David Santos
Juntou-se a multidão,
e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria
língua (At 2,5).
O que espanta nessa
leitura, nessa rememoração da tradição, não é o miraculoso fato de se
transmitir sons em línguas diversas. Não é a comunicação feita por palavras,
por gestos, por milagres e curas. O espanto está no ouvir, ouvir em sua própria
língua. O que nos fala mais do que nossa língua materna?
Não é ela que possui
um lugar afetivo em nosso âmago?
Foi lá que escutaram -
Nós, que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e
da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte
da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; judeus e
prosélitos, cretenses e árabes (AT 2, 9-10) – no mais íntimo de seu Ser, com
espanto e admiração, escutaram. O que escutaram?
Todos nós os escutamos
anunciarem as maravilhas de Deus em nossa própria língua! (At 2,10)
Eram somente simples
galileus que anunciaram em todas as línguas, por todos os cantos, as maravilhas
de Deus. Falaram, espantaram e causaram admiração, não pelo poder de seu
discurso, mas pelo teor da mensagem. As maravilhas de Deus não são propriedades
de um povo, de um grupo, ou de homem. Essas maravilhas pertencem e estão em
todos que são capazes de ouvir, de sentir, de se espantar e de se admirar. A mensagem
é universal. É palavra que humaniza.
Ele fala ao coração,
ao âmago. Ele está no mais precioso de nós, está naquilo que nos permite ser o que
somos; na língua materna, na qual nos despertamos para existência. Ele nos desperta.
De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos
batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós
bebemos de um único Espírito (1Cor 12,13).
Formamos junto o corpo de Cristo, reunidos somos o Cristo e Somos
Igreja. Alimentados pelo único espírito nos tornamos portadores e distribuidores
dessa mensagem universal e por ela levamos a luz aos que se esqueceram da luz.
Esse é o Espirito que nos
movimenta, Espírito de serviço e de testemunho, lançado como línguas de fogo
sobre nós no batismo e confirmado na crisma. Força que nos garante o perdão de
nossas limitações - A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a
quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,23) – perdão que nos dá
oportunidade de seguir em frente, sem carregar as mágoas da intolerância.
Caríssimos (as) é questão de lógica, lógica da palavra, se
perdoo as falhas de quem me ofende, perdoo a mim mesmo, se não perdoo condeno a
mim mesmo, pois carregarei essa dor por todos os dias de minha vida. O perdão
nos garante o início da salvação e nos aproxima do Altíssimo, fonte de Luz,
fonte de vida, fonte do espanto e da admiração.
Os textos sagrados desse domingo de pentecostes nos lembram do
resgaste da nossa humanidade, espirito que desce sobre nós como línguas de fogo
e nos faz mensageiros de uma mensagem universal, mensageiros das maravilhas de
Deus. Maravilhas que nos libertam para dimensão do perdão, perdão de si e do
outro. Maravilha que humaniza e que nos faz fonte de luz, de espanto e de
admiração.
Fonte da Imagem: http://www.arquidiocesedesaopaulo.org.br/node/118298
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