A Lâmpada e os Insetos.

David Santos
Existia em uma pequena praça um carrinho de lanches, ali pela noite iam se alimentar todos os cidadãos daquela vila. Claro, não iam sozinhos. Além da dona da barraca, visitavam o carrinho sem cessar muitos insetos e eles eram inúmeros: mariposas das mais diversas e insetos dos mais variáveis, em voo, em marcha, sozinhos e aos bandos.
Na tentativa de resolver o problema dos insetos, que afastava os clientes a senhora, que ali trabalhava, tentou de tudo. De dedetização a mandinga, mas nada dava certo.
 Os clientes até protestaram. Claro, cada um de seu jeito, cada um com sua causa, uns a favor e outros contra: uns se diziam até insetos. No fundo poucos sabiam contra o que protestar.
Nem protesto, nem dedetização, nem mandiga resolvia o problema dos insetos. Por um tempo, até deu certo, haviam desaparecido os insetos, mas logo voltaram em maior quantidade. A lancheira esperta que era, passou a observar e a pensar. De onde vêm esses insetos? O que os causam? O que é o inseto?
Quase virou filosofa, por sorte, que não!
De repente, em um estalo, daqueles que acontecem poucas vezes, veio à iluminação.
O problema não está na chapa do lanche, não está no carrinho, não está em mim. O problema está na lâmpada. Está no sistema que estou implicada. É o sistema que tem que mudar.... Essa coisa de inseto, lanche e lâmpada é ‘estória’ antiga, narrativa de criança. Porém fala muito do que se passa. 
2014 é ano de copa, ano de eleição. Do grito de gol a propaganda eleitoral. Ano apertado, curto, pequeno somado ao carnaval. 2013 foi o ano da passeata, passeata do jovem, passeata do experiente. Todos juntos e divergentes  reivindicando seus direitos coletivos e INDIVIDUAIS, foi o ano das lágrimas do despertar do gigante que nunca dormiu.
Agora no ano do ‘Rolezinho’, o que mudou?
Uma coisa aqui em Belo Horizonte mudou. O trânsito está cada dia mais caótico devido às obras da copa, os moradores de rua estão saindo do centro e indo para as periferias e as obras pelo curto tempo estão sendo maquiadas. Claro, Como se pode esquecer, a passagem que em 2013 baixou de preço teve agora um ano depois seu incremento, tudo voltou a ser como era e o novo sistema de transporte urbano começa colocar seus primeiros problemas. Muita coisa além do observável deve estar acontecendo...
A copa está por chegar, as passeatas pela ‘diversidade de direitos’ devem recomeçar. A falácia do despertar do gigante levantará de seu ‘deitar eterno’. Como, pelo revoar dos revoltosos, vamos resolver os problemas sociais que nos acercam? Para onde devemos olhar?
Calma, calma! Não vamos correr o risco da vendedora de lanches, o risco de ser filosofo. Antes de chegarmos às perguntas sem resposta: O que é o social? O que é o olhar? O que é a vida? Vamos buscar, como ela fez, a origem de tudo. Recorde-se a origem dos insetos não estava no carrinho, não estava na vendedora, não estava na praça. Estava na lâmpada mal posicionada, estava no que iluminava o sistema, estava no jeito de olhar.
 No caso que envolve pessoas como nós, não adianta medida paliativa. Nem mandiga, nem reza, nem grito, muito menos violência. Lembre-se: apesar de estarmos imersos em uma ‘guerra civil’, o governo tem mais armas.

A Dona Esperança, para resolver seu problema trocou a posição da lâmpada, mudou o sistema, mudou o foco. Os insetos não deixaram de existir, como a injustiça eles sempre existirão, pois têm seu papel na natureza. A solução para nosso problema talvez não esteja na que foi utilizada em 2014 para calar a doxa popular, tirando alguns centavos das passagens de ônibus. 
Ela passa por rever todo o sistema que nos cerca, passa pelo rever do agir individual e transpassa pelo agir coletivo. Não é uma massa 'consciente' que pelos votos diretos elegerá seus representantes, mas um conjunto de cidadãos que cientes de seus direitos e deveres votarão em candidatos que conduzirão nosso país a um novo horizonte. Na utopia de uma verdadeira democracia esse que elegem também serão responsáveis pelos elegidos e todos cidadão a cidadão, cidadã a cidadã construirão um Brasil onde a responsabilidade ética governa sobre a corrupção e que a justiça seja equitativa, garantindo a todos o direito a humanização.

Comentários

Postagens mais visitadas