Nem Pior, Nem melhor.
Por, David Santos
Pior é a violência feita sobre as pessoas que vivem em regiões
que dizem pouco sobre onde vivo? Regiões como Venezuela, como Crimeia. Pior é a
violência ocorrida no desabrochar da primavera árabe? Primavera que arreda
caminho para o abrolhar discreto das rosas do capitalismo. Rosas que brotaram sobre
Hiroshima e Nagasaki.
É pior a violência que acontece por onde passo, por onde
vivo? Violência silenciada pela mídia. Mídia que lança para distante de ti,
distante de mim, distante de nós, seus olhos de cristal e sua opinião formadora
de opiniões. Espelhos que afastam o olhar de onde causa impacto direto em nós.
Por que esquecemos os pequenos e numerosos espinhos do caule
da roseira do quintal, que fazem sangrar o povo que nele vive?
De onde brota tanta indiferença local? Indiferença que
permite que morram mais de 50 mil pessoas, por ano, vítimas de arma de fogo.
Indiferença que lança nossos olhares para onde não podemos fazer a diferença.
Indiferença que bate no peito e grita gol. Indiferença que permite entrar em
casa, trancar a porta e sentir-se seguro. Não é comigo, “fo%$-@e”!
O que garante, que essa mesma indiferença, no girar da chave
da segurança, não me somará ao número crescente das vítimas da violência? O que
posso fazer para mudar a mim, para que de mim eu possa sacar a indiferença e a
vida levar por onde passar? O que podemos fazer para limpar nosso quintal de
todo esse sangue e as feridas sanar?
Se fosse uma a vítima da violência muito já seria, mas não é
um, nem são dois. São milhares somados a essa tragédia a cada ano. E para onde
olhamos?
Olho para o menino do semáforo, pedindo dinheiro, limpando
meu vidro para poder se sustentar. Olho para vítima da sociedade, vítima minha
também, vítima dela, que não tem garantidos os direitos paupérrimos que temos.
Olho para as luzes vermelhas cintilantes em frente a casas simples, das casas
dos mesmos meninos mirados no semáforo. Recuso-me a olhar para os que com o
roubo e ganância, protegidos por suas coleiras brancas, roubam rios de dinheiro
e dormem tranquilos com a sua consciência cheia dos mortos. Mortos das filas de
hospitais, mortos do tráfico e do trafego.
O que é pior? A violência de longe, ou a violência de perto?
Nem pior, nem melhor. Violência é violência não importa
onde. Não importa se é por interesse econômico; Venezuela, Crimeia,
Primavera... Ou por desinteresse social... Violência, sempre será violência.
Trancar a porta e assegurar-me na insegurança de minha casa,
não garante a segurança da vida. Mudar o mundo é muita pretensão, tanta
pretensão como a da andorinha que sozinha quer fazer verão. Sozinho a única
coisa que se pode é dar mais uma volta na chave, é voar sozinho e tentar fazer
verão.
O que podemos fazer para mudar efetivamente o lugar onde
vivemos? Para juntos olharmos e contribuirmos para mudanças que não gerem rosas
de sangue, nem primaveras de adubo capitalista, muito menos conflitos por combustível.
Mas, sim, rosas de vida e primaveras de igualdade dos direitos que humanizam a
humanidade do humano. Entristece-me, muito, voltar para a casa todos os dias e
pouco ter contribuído para mudar o mar de sangue que rega nossas calçadas.
Alegro-me por ter conseguido por hoje fazer o pouco, bato minhas asas com a
esperança que outras frágeis e pequenas andorinhas anunciarão o verão, mesmo
que nunca seja capaz de ver a primavera.
Comentários
Postar um comentário