Carta

De, Estanislau Kostka, aos jovens do mundo!

David J. Santos

Como fico feliz de saber que depois de tanto tempo que parti do meio de vós ainda tantos jovens em tantas partes do mundo caminham para desenvolver uma missão em comum. Também eu caminhei muito para colocar em prática minha vocação. Lembro-me do meu tempo e de minha vida. Tudo era tão diferente do que é hoje. Não tínhamos as tecnologias, as viagens demoravam meses, à distância fazia de tudo algo muito difícil. Nós jovens do século XVl não tínhamos as facilidades que vós jovens do século XXl têm. Tudo era muito difícil, nossa liberdade era limitada, dependíamos muito do que nossos pais pensavam. Porém uma coisa temos em comum, os sonhos. Meu sonho era estar junto a Virgem Santíssima para ela me colocar diante de seu Filho e esse me colocar junto do Pai. Repetia constantemente: “Nasci para coisas maiores”.
 Meu nome se não lembram é Estanislau Kostka. Nasci em um castelo na Polônia no berço de uma influente família. Duas pessoas me impediam de realizar meu sonho, meu pai e meu irmão. O primeiro era muito severo e desejava que o seguisse no caminho das armas. O segundo era dado as vaidades de meu tempo, que não são muito diferentes das vaidades de seu tempo. Meu irmão era violento, beberrão e dado às mulheres.  Duas coisas separavam-me de meu ideal. O que vos separa de ter um ideal?
Como dou gargalhadas ao lembrar-me de minha juventude no século XVl, quase tudo para mim era impuro. A visão que tínhamos das coisas era muito diferente da visão de mundo que vocês têm hoje. Meu escrúpulo era tão grande que fazia da maravilhosa criação Divina, algo ‘impuro’. Porém, fico com receio quando olho para vossa realidade. No século em que vivem, já quase não se diferencia o bem do mal, tudo é relativo, tão relativo que às vezes perde até o sentido de ser. Vejo jovens sem sonhos, sem ideais, sem um sentido a seguir.
Jovens que nem se perguntam sobre os limites do puro e do impuro. De outro lado, vejo jovens que repetem o que fiz, fazem do puro impuro. O que é puro? O que é impuro? Num mundo onde tudo é permitido. O que convém a um jovem cristão de vosso tempo?
Preocupo-me com vossa saúde espiritual, com a qualidade de seus sonhos, com as metas que se estipulam, com os limites que se estabelecem. No meu tempo nossa religiosidade não era tão fragmentada como é a vossa. Vejo jovens que têm de tudo um pouco e no fundo não são nada.
Um pouco cristão, um pouco budista, um pouco hinduísta, monoteísta e politeísta ao mesmo tempo, crente e ateu. Vejo essas ambiguidades presentes em muitos e no fim não se é nada.
Alguns dentre vós permitem-se tanta coisa que não conseguem estabelecer limites. Lembrem-se de Paulo: “Tudo me é permitido, porém tudo não convém” (1Cor 6,12). Mesmo escrupuloso eu tinha certo comigo o que convinha e o que não convinha a um jovem cristão de meu tempo. Caro amigo (a) torno a perguntar: O que convém a um jovem cristão de seu tempo?
Dado a certeza que tanto tinha em minhas convicções, um dia meu irmão me bateu tanto que fiquei a beira da morte. Por graça de Deus recuperei-me. Dentro de mim alimentava o desejo diário de estar junto de minha querida e amada Mãe.
Em vosso mundo, vejo muitas coisas que lhes agridem: corrupção; fome; desemprego; drogas; muita coisa tenta roubar vossa convicção.
Porém vejo esperança em vossos olhares, vejo futuro no ato de vir de tão longe para buscar algo que desejam. Também fui muito longe para buscar algo que desejava, para alcançar o que queria. Decidi ser jesuíta, decidi gastar minha vida a serviço da missão de Cristo.
Mas nem meu irmão, nem meu pai me deixariam seguir minha vocação. Orientado por um Jesuíta, um dia me vesti de peregrino, primeiro parti para Alemanha e depois para Roma. Meu irmão tentou me seguir, mas por graça da Virgem não conseguiu. O que vos persegue? O que vos impede de buscar coisas maiores? Em quem confiam?
Hoje a distância que percorri a pé em dias, percorre-se em minutos. Distância é coisa até subjetiva, se olharmos bem, nem existe mais.  Depois de dias a pé, cheguei a Roma e lá fui aceito no noviciado. Cuidei de minha saúde espiritual. Dia a dia crescia o desejo de encontrar-me com Deus. O desejo era tão expressivo que durante uma contemplação a Virgem colocou seu Filho em meus braços. Que desejo traz em vosso coração? O que deseja carregar junto ao seu corpo?
O tempo passou e do nada adoeci. Cuidaram muito bem de mim, porém a Virgem me levou consigo. Parti para cá de onde vos escrevo.
Meu irmão por ordem de meu pai que não se conformava com o caminho que escolhi, pegou uma carruagem e foi até o noviciado me buscar. Com ele carregava uma corrente bem forte para me levar de volta a nosso castelo. Ao chegar, já não me encontrava lá. Encontrou somente algumas flores e o testemunho que muitos davam da virtude de minha vida. Meu testemunho converteu toda minha família.
Hoje, os Kostka, são lembrados na Polônia pelo testemunho de vida que dei. Não são lembrados pelo poder que tinham, dinheiro não deixa memória. O seu mundo caro jovem é marcado pelo poder, pelo domínio, pelo possuir. É um mundo marcado por coisas passageiras.
Diante de tanta coisa vazia e sem sentido. No que deposita seu existir?
Querido jovem, gostaria muito de continuar essa carta, tantas coisas ainda tenho a vos dizer. Porém é necessário que algumas coisas descubra por si só. Purifique seus sonhos. Faça de seu mundo um mundo melhor. Nasça para coisas maiores.





Estanislau Kostka

Nasci Para Coisas Maiores!

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