Infinito



DO INFINITAMENTE ÍNFIMO AO INFINITAMENTE COLOSSAL.
David Santos






Olhar para a afirmação do físico norte americano Murray Gell-Mann - Não é preciso algo mais para explicar algo mais - causa a consciência, que busca na metafísica os elementos para compreender o Mundo, um desconforto que a desperta. Mecanismo semelhante talvez tenha alimentado em Aristóteles o desejo de conhecer as causas primeiras; fez brotar de Platão o mundo das formas perfeitas; fez Sócrates travar intermináveis diálogos em busca da Maiêutica; levou Tales, o primeiro filósofo, segundo Aristóteles, a dizer que a água é o princípio de tudo. Provavelmente foi o mesmo mecanismo que em um recesso na fazenda de sua mãe, fez Newton, na mitológica queda da maça, descobrir a força da gravidade. Mistério que fez Einstein nos seus passeios de bicicleta pela Alemanha, depois de impedido de frequentar as aulas, a iniciar a reflexão sobre a teoria da relatividade. Algo que desperta no humano, o desejo de refletir sobre o novo.  Que o lança em um universo desconhecido até então.
Os números intelectualmente e espiritualmente abraçados pelos Pitagóricos evoluíram com o passar dos séculos. Formam representações complexas e “desmistifidas”, mas misteriosas. Esse processo é semelhante ao que ocorreu com a filosofia, que migrou das suas representações mitológicas (teodiceias); ao Ápeiron de Anaximandro; ao ente de Parmênides; ao tudo flui de Heráclito; até chegar ao primeiro filósofo Tales e as complexas discussões filosóficas contemporâneas. A complexidade contemporânea dos números, esvaziados da mística pitagórica, é a forma mais simples de representar a complexidade das leis que regem a matéria, que vai do infinitamente ínfimo ao infinitamente colossal. Os números migraram das primitivas representações pitagóricas, aos complexos sistemas matemáticos e Físicos. Antes eram tidos como entes, hoje são a base das teorias matemáticas e a base da constituição cósmica. Um pouco de mística ainda parece persistir.
Imersa nessa passagem a humanidade se alimenta de seus benefícios e malefícios. Da bomba nuclear a radioterapia, das bombas químicas aos remédios, das guerras biológicas as vacinas. Passagem que gera e tira vida, travessia que os últimos cem anos alteraram de modo significativo o ambiente terrestre. Hoje se vive sobre o domínio de quatro grandes forças físicas, tudo que rodeia o homem obedece essas forças, tudo que constitui o mundo é composto de pequenas partículas maiores que o infinitamente ínfimo.
Participamos direta, ou indiretamente de uma corrida; as causas da origem de tudo; a base da matéria; ao fundamento do Mundo que interpretamos. A religião, já não é o único caminho para descobrir o fundamento de tudo, não basta mais dizer que tudo vem de Deus, se como supõe o físico, toda a explicação do Cosmos está no próprio Cosmos. Não é preciso algo mais para explicar algo mais. Dogmas estão sendo substituídos por postulados e axiomas. Essa corrida leva os cientistas a buscar um meio de descobrir uma lei que unifica todas as leis, buscam isso pela teoria das supercordas. Que não é aplicada a um universo tridimensional como imaginamos, mas sim a um universo “decadimensional”, com dez dimensões e um único tempo.
O que isso representará para humanidade?
Como a humanidade caminha décadas atrás da ciência, nada tem a dizer, existem somente suposições em torno do Infinitamente Ínfimo e do Infinitamente Colossal. Tão ínfimo que não pode ser observado e tão colossal que escapa da percepção. Essa corrida leva a Murray a dizer: Não é preciso algo a mais para explicar algo a mais. Assim como leva a muitos outros cientistas a negar a necessidade de algo sobrenatural para explicar o natural.
A natureza se explica por si mesma, as leis e os acidentes que geraram a vida, que geraram a consciência se explicam, eles se bastam. Nessa nova e emergente visão de Mundo não existe revelação, existem descobertas, tudo está ai. Não é preciso algo a mais para explicar algo a mais. Será que a humanidade está saindo da caverna? Será que já abriu seus olhos diante da luz da fogueira, ou, ainda esses estão serrados?
A consciência que já não busca na metafísica explicação para Phísis, ou nunca buscou, sente-se tranquila diante do desafio que é pensar um Mundo sem a necessidade de algo fora Dele. Ora, se existe esse algo, e como, esse algo é objeto de fé, ela sabe desse Algo. “Causa Primeira” que desperta a mente do humano para descobrir tudo que já está presente na Natureza, Ela não necessita ser explicada pelos seres naturais, “que são fruto dos acidentes da natureza”, prefiro dizer, que são filhos da “Causa Primeira” e que semelhantes a Ela comungam de sua consciência. A esses basta representar o que está a sua volta e dar a isso significado, criar o Mundo, suas representações. E manifestá-las pelo limite da dialética, da ciência, da religião e da arte. Pelos limites do produto das representações humanas.
Quando em nossos gigantescos aceleradores de partículas, fotografarmos as pequenas cordas,  que como ondas que são, movimentam e geram tudo que existe, descobriremos a causa primeira?

Esse Infinitamente Ínfimo e Infinitamente Colossal que conheço por Deus, está além de nossas representações. É base do Mundo e está além dele em proporção infinita, não importa para onde se olhe. Se é para o Ínfimo, ou se é para o Colossal, ali Ele está e até agora somos os únicos acidentes que conseguem percebe-Lo, negá-Lo e aceita-Lo. A compreensão parte do Infinitamente Ínfimo ao Infinitamente Colossal. 

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