Fé: Nunca vem sozinha.
David Santos
Contou-lhe ainda uma parábola para
mostrar a necessidade de orar sempre, sem jamais esmorecer (Lc 18, 1).
Ela
nunca vem sozinha, é através de um conto que chega, vem calma, como um pequeno
grão de mostarda, que mais parece o excremento que os cupins deixam ao corroer
o velho móvel. Depois que chega e entra
ela solta suas raízes e cresce. Cresce tanto que faz sombra, que serve de
abrigo, de defesa, dá sentido à falta de sentido. Porém para que cresça, exige
de quem apreendeu persistência, garra, coragem e o não esmorecimento. Havia numa cidade um juiz que não temia a
Deus e não tinha consideração para com os homens (Lc 18,2). O Homem que
julga, que executa a lei, que não venera algo que escapa a ele e que não
considera os Homens, que não vê valor no seu semelhante, que não se espanta
diante da grandeza que é o Outro. Um Homem que carrega consigo as leis e o
poder de executá-las. Porém aparenta carecer de respeito, de responsabilidade
com o outro. Ele não teme ao que o transcende e não respeita a quem o
transcende.
Nessa mesma cidade havia uma viúva
que vinha a ele, dizendo: ‘Faz-me justiça contra meu adversário!’ (Lc 18,3).
Uma mulher sem direitos, sem assistência, sem ninguém, refugo dos refugos, em um
mundo que despreza a mulher, a criança, o deficiente e o doente, um mundo tão
funcional e utilitarista quanto o seu. Quem é seu adversário? A quem pode ela
recorrer?
Poder
e pobreza, em uma mesma história. Poder que não teme a grandeza e a pobreza.
Pobreza que não teme o poder. ‘Embora eu
não tema a Deus, nem respeite os homens,[...], vou fazer-lhe justiça, para que
não venha por fim esbofetear-me (Lc 18,4-5)’. Seu único temor restringe-se
ao mal que pode sofrer, restringe-se a si, um injusto que faz justiça. Uma
injustiçada que quer justiça. Quem é seu adversário?
‘Escutai o que diz o juiz iníquo’
(Lc 18, 6). Aquele que não teme nem o que deve
temer. Por medo, foi capaz de fazer justiça, pela ‘insistência’ do
insignificante. Se quem não tem a justiça como valor é capaz de fazê-la, devido
à insistência de quem a pede, mesmo que quem a peça seja alguém humilde. O que
fará a Justiça em Si?
Imagine
Deus, que não teme nada e não pode sofrer mal algum, pois por definição é o Bem
Absoluto e por o Ser, não faz mau algum.
O que Ele fará?
A oração
do humilde penetra as nuvens e, enquanto não chega lá, ele não se consola. Não
se retirará daí enquanto o altíssimo não puser nele os olhos, fizer justiça aos
justos, reestabelecer a equidade (Eclo 35, 21-22).
A
fé, é ela que nunca vem sozinha, carrega consigo a humildade. Humildade que faz
com que se reconheça o que se é, que faz com que se tenha consciência de si
mesmo. O juiz tinha consciência de si e a viúva também, porém ela agarrou-se no
que tinha para obter justiça, fé. Ele, mesmo grande, sabia que tinha a ínfima possibilidade
de ser agredido. Ambos são humildes em grau diferente, ambos tem fé em grau
diferente. Mas quando o filho do homem
voltar encontrará fé sobre a terra?(Lc 18,8).
A
viúva por não ter ninguém, por só ter a fé apreendida, voltaria ao juiz iníquo até o último dia de sua vida e a justiça para ela chegaria como um ladrão. Ora
o filho do homem também chegará como um ladrão. Ainda, estarei eu, vigilante,
para não ser surpreendido?
Ouçam
o que diz o juiz iniquo e peçam como pede a viúva. Quanto ao filho do homem,
não sabemos o dia que retornará, mas pela fé, que veio por alguém e não
sozinha. Sabemos que nossas orações penetraram as nuvens e que não as cessaremos
enquanto Ele não colocar os olhos sobre elas. Ela nunca vem sozinha, além da
caridade e da esperança, traz consigo o Cristo, traz consigo a Salvação.
Fontes
das imagens.
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