Autobiografia

Autobiografia narrativa de Santo Inácio de Loyola.
David Santos

Venho de muito longe, para uma coisa lhes contar, algo tão misterioso que meu coração não quer calar.
É da vida de um homem, que de simples se fez grande. Fazendo-se pobre e humilde, encontrou o que procurava.
 O que encontrou, agora não posso lhes contar. O desfecho desta história assombrosa dá-me arrepios só de pensar.
Um simples homem é feito um dos maiores! O servo se torna mestre e o escravo se torna rei!
Tudo começa no berço de uma família rica que morava em Loyola. Nasce um menino que de treze é o caçula, esse se apaixona pela vida e nas cortes vai se educar. Faz-se bem nas artes de armas e na bela caligrafia se destaca. Apaixona-se pela beleza, pelas glórias e pelas riquezas.
 Nas armas faz estripulia!
Tanta estripulia que algumas vezes é obrigado a fugir e buscar abrigo com os seus.
Como todo jovem vive o ardor e a dor da juventude.
Foi então numa batalha, em que todos não queriam mais lutar, mas o jovem de Loyola a todos fez entusiasmar.
Deu-se então aquela disputa em Pamplona a começar. Depois de dias batalhando, eis, que sua vida começou a mudar. De uma direção não se sabe donde, um estilhaço de bala de canhão, atingiu nobre cidadão, entre as pernas foi ferido. Uma estraçalhada e a outra machucada.
Pobre jovem!
Não quis se entregar antes disso, para sua vida salvar e quando por terra caiu. Eis! Que Todos os seus se entregaram. Como nobre combatente, foi tratado pelos inimigos, colocaram sua perna no lugar e em uma liteira para sua terra foram levar.
Muitos médicos o socorreram e a uma cirurgia foi submetido. A perna havia saído do lugar e para se recuperar foi dada a carnificina. Quebraram-lhe a perna novamente e o jovem guerreiro começou a se recuperar.
Na recuperação foi encontrar abrigo nas leituras.
Que frustração!
Na casa de seu irmão não havia livros de cavalaria, aos quais se afeiçoava. Foi-lhe dado um livro que fala sobre a vida dos santos e outro que fala da vida daquele que mudaria a sua vida.
Imagine a cabeça de um jovem homem, quando lê belos feitos. Coloca-se logo a imaginar: e se eu fizesse isso ou aquilo, como o fez santo..., como o fez santo... E nas outras horas imaginava-se ganhando o amor de nobre senhorita, a mais bela do reino e vencendo batalhas por um rei temporal.
Ó, vaidade das vaidades, tudo é vaidade!
 Sua perna se recuperou e um caroço horrível gerou. Por vaidade, submeteu-se a outra carnificina. Os médicos serraram o osso deformado. Ele corajoso suportou toda dor, somente segurou firme seus próprios punhos.
Sua saúde depois disso, arruinou.
Ninguém acreditava que ele ia sobreviver. Nem seu próprio irmão que via insanidade no ato do guerreiro.
Entre a vida e a morte o jovem cavaleiro estava e quando narrou sua história disse: Até os vinte e seis anos de vida, fui um homem entregue as vaidades do mundo.
Creio que o primeiro nome deste homem, todos já o sabem, mas vou ocultá-lo até o fim dessa história. E se pensão que acabou, estão enganados, ela apenas se inicia.
Pelos fatos que a descreve, serei muito breve, se não o for, teremos que passar dias e dias a me escutar.
Dessa segunda carnificina o jovem homem sobreviveu e em seu coração outro desejo nasceu. Não queria mais a bela dama, nem as honras e as glórias. Encontrou nova senhora a servir e há um nobre Rei a defender. Daquele momento em diante, sua vida toda desejava gastar, para as almas do mal resgatar. Sábia distinguir entre os pensamentos que lhe davam grande conforto, mas que no seu fim o levavam a um abismo e os que o levavam para seu verdadeiro fim. Conheceu na convalescência os espíritos que movem o homem e a partir daí começou a discerni-los.
Decidiu ir a Jerusalém!
Lá toda sua vida gastaria a peregrinar e salvar as almas.
Como peregrino no lombo de uma mulinha começou a cavalgar. No caminho encontrou um mouro e começou a dialogar.
O mouro deu boas razões, para a virgindade de sua Bela Dama não continuar. Correndo a frente do peregrino o mouro em seu cavalo desapareceu e o jovem de Loyola em seu coração estabeleceu.
Vou seguir este mouro e com golpes de minha adaga o ferirei, se ele não se redimir do que falou de minha Bela Senhora.
Ó Peregrino! Pense bem em seus sentimentos.
Eles te levam a Deus ou a Vingança?
Chegando num desvio jogou nas patas da mula todo o seu futuro: Se a mula for para cidade o mouro combaterei, mas se pegar outro caminho nele continuarei.
Santa mula!
Salvou o peregrino e outro caminho tomou. Essa mula pode ser considerada, como o burro que a Jesus carregou. Dignidade semelhante tem, pois a vida de grande peregrino salvou e para Monserrate em segurança o levou.
Em Monserrate durante três dias confessou e sua mulinha a um mosteiro mandou entregar e a espada e o punhal que carregava no altar dependurar. Escondido despiu-se dos nobres trajes que vestia e suas vestes a um mendigo doou. Vestiu-se da túnica que costurar mandou.
O jovem guerreiro, um peregrino se tornou.
Passou a noite toda na capela a vigiar, ora em pé, ora de joelhos com seu bordão na mão. Pelo amanhecer partiu rumo a Jerusalém onde desejava toda sua vida nos lugares santos gastar.
Mendigando continuou e num lugarejo chamado Manresa, parou. Ali desejava passar alguns dias e anotar no caderninho que trazia algumas coisas que muito o agradavam. As palavras de Jesus em tinta azul e as de Nossa Senhora em tinta vermelha. Era assim que anotava esse peregrino de grandes visões e consolações espirituais.
 Em Manresa pedia esmola cada dia e em um hospital habitava. Com a esmola que ganhava outros pobres ajudava. Jejuando e confessando muito tempo ali passou. Do  hospital a uma gruta o peregrino habitou.
Muita visão teve nesse povoado, visões que aprendeu a compreender com o tempo e tentações que venceu uma a uma. Fazia sete horas de oração diárias, jejum e penitência.
Os poucos dias que ali ia passar duraram quase um ano.
O pobre peregrino continua a trabalhar em seu interior, uma coisa que hoje todos aprendemos dele.
Um dia na margem de um rio chamado Cardoner, teve grande visão!
Da qual disse ser uma das maiores revelações que já teve e que depois daquela não teve outra igual. Os olhos da compreensão e do espírito abriram-se como nunca antes o haviam.
 No fim desse ano deixou bela aldeia, deixou seus confessores e o hospital ao qual morava. O pobre peregrino de Loyola já não mais excessos cometia. De unhas aparadas, cabelos cortados e barba feita. Deu-se novamente a peregrinar.
Rumo a Jerusalém para lá foi o Peregrino, por todo local onde passava reconheciam sua santidade e com ele iam se orientar.
De Manresa a Barcelona, sempre buscava três virtudes: Caridade, Fé e Esperança. Só em Deus desejava colocar sua vida e só Dele queria depender. Em Barcelona juntou viveres e rumo a Gaeta partiu. Depois de cinco dias no mar, para Roma começou a peregrinar.
Uma mulher e uma filha com o peregrino se ajuntaram e durante uma noite aos gritos.
Isso há de sofrer! Isso há sofrer! Entre coisas semelhantes.
Salvou bela moça das mãos de soldados, que nada fizeram contra o peregrino.
Em Roma tomou a benção do papa Adriano VI e rumo a Veneza partiu, dormia nos pórticos para se esconder dos vigias da peste.
Chegando a Veneza encontrou problema, pois cédula de saúde não possuía, mas sem temer e nem ser visto, passou pelos guardas, despercebido.
Em Veneza mendigava e dormia na Praça de São Marcos. Talvez tenha confiado no dito de Jesus, que quando por um jovem foi indagado que o seguiria por onde Ele fosse. Logo respondeu: Os pássaros têm seus ninhos e as raposas suas tocas, mas o filho do Homem não tem onde repousar sua cabeça.
Como Jesus o peregrino já não tinha há tempos onde repousar sua cabeça, não tinha sua segurança nem nos homens, nem nas honras. Mesmo em tal situação nunca procurou ajuda de nem um nobre e nem um casebre para repousar.
Em Veneza conseguiu seus viveres e para Jerusalém embarcou.
Mas a sorte meus amigos, não estava a favor do pobre peregrino, por motivos coerentes em Jerusalém não pode permanecer, dali teve que partir carregado pelos braços pelo cristão da cintura e num pequeno barco embarcou rumo a Veneza.
E agora Peregrino de Loyola? Por acaso sua história acabou?
Não companheiros, quem lhes conta diz que apenas recomeçou.
Já que não pode salvar almas pelo pouco estudo, já que não pode orientar e nem falar dos pecados veniais e dos mortais, já que não pode sua vida em Jerusalém gastar e a muitos ajudar, decidiu então os estudos retomar.
Caminhou muito entre os exércitos, rumo a Genova. Foi preso e humilhado, quando carregado pelos braços pelos soldados dentro de seu coração sempre repetia, foi por Ti Senhor.
Solto, foi a Barcelona estudar e também a Alcalá. Em Alcalá, muito contra tempos enfrentou. Até os inquisidores defrontou, mas sem culpa e nem dívida foi liberado. Depois quarenta e dois dias de prisão pegou. Por um crime que não cometeu. Um crime que não aconteceu e sem culpa nenhuma foi liberado, mãe e  filha retornaram em segurança. O chefe da guarda logo deu a sentença: Que seja solto o Peregrino, mas que saia daqui e junto com os seus se vista como os outros estudantes.
Parte o peregrino de Alcalá para Salamanca e lá mais uma vez por desentendimento das autoridades é preso. Toda sua doutrina é analisada e o seu livrinho dos exercícios, entrega para ser lido.
Depois de nada encontrar contra sua doutrina e nem contra seu modo de vida, depois de vinte e dois dias passados o peregrino e seus companheiros foram liberados.
Logo que solto e decidido, parte o peregrino para Paris,  já que em Salamanca as almas não podia aproveitar. Sem medo das guerras, parte ele sozinho, junto a um Asninho que seus poucos livros carregava. Chegou a Paris e logo os estudos começou e os vinte e quatro escudos que carregava a outro espanhol entregou. Esse por sua vez todo o dinheiro gastou.
O peregrino agora sem provimentos num hospital foi recolhido e a dificuldade recomeçou. Já não conseguia participar das aulas com qualidade e o barulho do hospital não o ajudava. Resolveu então todo ano ir a Flandres e lá arrecadar o que necessitava, para os estudos continuar.
Enquanto estudava muitos jovens conheceu e a muitos outros influenciou, mas de dois jovens especiais me atrevo o nome falar, mas o nome do peregrino, ainda não vou revelar.
Um era Francisco Xavier e outro Pedro Fabro, o primeiro foi à pedra mais bruta que o peregrino trabalhou e o segundo grande mestre nos exercícios se tornou. Graduou-se em Paris, agora já pode as almas aproveitar e para Jerusalém novamente peregrinar. Lá toda sua vida desejava gastar, agora não mais sozinho mas com amigos iria evangelizar. Caso não embarcassem nos três anos seguintes, ao vigário de Cristo irão se apresentar.
 A saúde do pobre peregrino não o favorece, vai a sua terra natal, para com os ares de seu lugar sua saúde recuperar. Envia então seus companheiros a Veneza para se preparar, pois com a saúde recuperada em Jerusalém suas vidas iriam gastar. Já não são só três pessoas agora são sete, que partem em grupos separados rumo a Veneza e o peregrino sozinho em seu cavalinho parte para Loyola. Antes disso um deles chamado Fabro, preside uma missa, onde todos fazem os votos de pobreza e castidade.
Em Loyola se hospeda num hospital, não desejava ficar na casa de seu irmão e no tempo que lá estava, passava o dia a mendigar e a pregar. Salvar as almas era o grande ideal do peregrino.
Recuperada a saúde parte montado a cavalo, junto com seus familiares até a cidade vizinha e deles se despede. Parte para Veneza para os seus encontrar, sozinho e a pé põem-se a caminhar. Em Veneza durante os anos que ali passaram não conseguiram embarcar. Foram então todos a Roma, para ao vigário de Cristo a vida toda entregar e a disposição dele se colocar. Numa capelinha antes de chegar a Roma, chamada La Storta, o Peregrino teve grande visão. Viu a Deus Pai e a Cristo Carregando a Cruz, o filho olha para Ele e diz. Quero que tu me sirvas!
Quanta emoção, o Filho lhe põe nas mãos e no coração a grande missão de segui-lo e o nome daqueles que o seguiam já estava definido, pois quando perguntavam quem eram tão humildes, sábios e honrados homens. Eles logo respondiam: Somos Companheiros de Jesus.
Diante do Papa, Vigário de Cristo, aqueles pobres homens fazem o voto de ir onde a Igreja necessitar e de tudo fazer para as almas salvar. Nasce nesse dia a Companhia de Jesus que pela defesa da fé, grandes feitos irá realizar e que o espelho de sua devoção, firmeza e fé é a vida do Pobre Peregrino de Loyola. Que no fim de suas cartas assinava: Pobre em Bondade.
Já ia me esquecendo do nome dele falar, mas já lhes digo que essa história não acabou. Ela e muitas outras histórias, carrego nesse livro que levo em meus braços. Se quiserem saber mais sobre o peregrino, procurem nos livros seus feitos de coragem, tudo está registrado na história dos Jesuítas.
 Querem mesmo saber o nome do peregrino?

Vou lhes dizer para na curiosidade não lhes deixar, seu nome é: Inácio de Loyola e para nós Santo Inácio de Loyola.

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